TL;DR: Neste material, temos como objetivo explicar como a gestão de riscos e acesso ao crédito rural são importantes para o desenvolvimento do agronegócio, em especial, diante das mudanças climáticas que podem aumentar as intempéries que causam prejuízo no campo.
Você irá conferir nesse artigo especial sobre crédito e produção rural:
– A gestão de riscos e o crédito rural
– O que é a gestão de riscos da propriedade rural
– Como funciona o Sistema de Crédito no Brasil
– Linhas de crédito para o produtor rural
– Entrevista exclusiva com José Angelo: Secretário Adjunto do Ministério da Agricultura
Impactos das mudanças climáticas no agronegócio
Sabemos que o agronegócio tem um desempenho fundamental na economia brasileira, somos o segundo maior produtor de soja do mundo e um dos maiores exportadores de milho e proteína animal.
Vindo em uma crescente, o setor apresenta bons resultados e se mantém firme como responsáveis pela fomentação do mercado externo, porém, as mudanças climáticas dos últimos meses podem apresentar alguns prejuízos para quem não tem uma gestão de riscos preparada e parte em busca do crédito para minimizar os estragos da sua produção rural.
Diante destes riscos inerentes ao setor como por exemplo: as recentes frentes frias que assolaram até mesmo as regiões mais quentes do país, os impactos envolvem grande parte do agronegócio como lavouras, colheitas e até mesmo insumos agrícolas e alimentos para o gado. A perda na produção rural acaba sendo um entrave encontrado pelo produtor e o mesmo busca no crédito rural uma garantia para seguir com a sua safra.
O que é gestão de risco da produção rural?
A gestão de risco é o processo de identificar e administrar os riscos existentes em uma atividade. E essa é uma das tarefas mais importantes de qualquer gestor em uma propriedade rural ou agroindústria.
Quando pensamos em agronegócio, nos deparamos com fatores de risco de diversas fontes, tanto do próprio sistema, quanto relacionados a fatores climáticos, tendência de mercado, entre outros.
A sustentabilidade do agronegócio está diretamente relacionada à previsibilidade, seja ela nas perspectivas de produção, custos, receitas e fontes de financiamento como o crédito rural impactam as tomadas de decisões no agro. A gestão de riscos se concentra no negativo – ameaças e falhas – em vez de oportunidades e sucessos.
Como funciona o Sistema de Crédito Rural no Brasil?
O Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) foi criado pela lei 4.595, de 31 de dezembro de 1964, e tem entre seus principais agentes os bancos e cooperativas de crédito. As normas de aplicação dos recursos são aprovadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e publicadas pelo Banco Central do Brasil (BC) no Manual de Crédito Rural (MCR).
A disponibilidade de recursos segue o calendário da safra, que vai de primeiro de julho de um ano a 30 de junho do ano seguinte.
OBJETIVOS
- Incentivar a produção e o desenvolvimento do agro
- Estimular investimentos por pessoas físicas e empresas
- Financiar custeios e comercialização
- Incentivar a geração de renda
CONDIÇÕES
- Orçamento, plano e projeto detalhados do que será feito, como, quando e quanto custará
- Garantias: penhor, alienação de bens, hipoteca, fiança, seguro rural/ProAgro ou contrato de preço futuro
- Liberação e pagamento: valor integral ou parcelas
Linhas de crédito para o produtor rural
O Sistema de Crédito permite ao produtor rural ter acesso a linhas de crédito para financiar
suas despesas com insumos durante o ciclo produtivo e pague o crédito somente após a colheita do seu produto. Esses insumos podem ser defensivos agrícolas, fertilizantes, sementes, entre outros.
As três principais linhas de crédito para o produção rural são:
- Crédito de custeio
Auxilia nos custos recorrentes da produção, como fertilizantes, defensivos e sementes.
- Crédito de investimento
Financia despesas fixas e semifixas, como compra de máquinas e equipamentos.
- Crédito de comercialização
Viabiliza ao produtor a comercialização de seus produtos no mercado, como, por exemplo, o financiamento para estocagem de produtos.
As mudanças climáticas podem aumentar as intempéries que causam prejuízo no campo, diante disso, o crédito para a produção rural se torna um mecanismo necessário no setor agropecuário. Mesmo em anos de recorde de safra, os eventos climáticos, sejam eles regionais, localizados ou sazonais, podem prejudicar o empreendimento. Dessa forma, pode ser necessário que o produtor rural renegocie sua dívida ou abra mão de novas linhas de crédito.
A seguir, confira a entrevista com José Angelo – Secretário Adjunto do Ministério da Agricultura como ele interpreta e vê a gestão de riscos diante das intempéries climáticas e como fica o crédito para a produção rural em momentos como esse.
Entrevista Exclusiva: Secretário Adjunto do Ministério da Agricultura: José Angelo
Qual a sua visão, de maneira geral, sobre a questão dos riscos inerentes ao setor e acesso ao crédito rural?
“O Brasil tem dois programas de amparo ao produtor rural para fazer face aos riscos típicos da atividade agropecuária, que são o Prêmio de Seguro Rural (PSR) e o Pro-agro, ambos não funcionam a contento. A gente precisa, como política pública, reunir esses programas em um instrumento que, de fato, leve esse amparo ao produtor rural e que ele possa gerir adequadamente os riscos típicos da sua atividade agropecuária.”
Existe alguma influência que a CPR (cédula do produto rural) cause sobre seguro rural?
“A CPR aquece o mercado de crédito. Na minha opinião, com a CPR, torna-se mais evidente a deficiência que existe no seguro rural, porque o seguro é uma forma de proteger essa operação financeira dos dois lados (produtor rural e investidor).
Por que junto da contratação da CPR, quando tem o seguro rural, indiscutivelmente, facilita o crédito. A percepção de risco do investidor em relação ao tomador diminui, por que ao contar com o seguro, as chances do investidor não receber de volta o dinheiro cai. O risco de crédito diminui bastante e facilita toda a administração de garantia.
Afinal, os mitigadores de risco de crédito e instrumentos que o credor tem para receber o dinheiro de volta, caso o produto não pague, ou é um seguro ou garantia ou garantia real.
A CPR aproximou devedores e credores, ou seja, investidores e produtores rurais. Aqueceu o mercado de crédito e, nessas interações está ficando cada vez mais claro a falta que um bom seguro rural faz, para que as finanças do agro bombem.”
Neste último Plano Safra dos R$251 bilhões liberados para o crédito rural, apenas R$1 bilhão está voltado para a área de seguros. Como se deu essa estratégia e essa divisão de investimentos?
“O Estado mapeia quanto que o ano agrícola terá de recursos via crédito, dentro desse mapeamento, estão destinados 1 bi, mas sabemos que não vamos , inclusive, já sofremos cortes e o seguro rural já está em 900 e pouco.
A gente percebe, na minha visão, um desbalanceamento entre a política pública de apoio ao crédito e a política pública de apoio ao seguro rural. Não estou dizendo que o crédito tem mais do que deveria ter, mas estou dizendo, certamente, que o seguro rural tem bem menos do que deveria ter pelas externalidades positivas que ele representa e significa até para o caixa do governo. Sem seguro rural quem assume risco das intempéries climáticas, por exemplo, é o caixa do Estado. Isso não faz sentido, não faz sentido trazer essa volatilidade para o orçamento público.
Mas o Estado brasileiro, até hoje, não deu a devida importância ao seguro rural que deveria ser dado, como política pública que favorece o crédito, favorece o produtor em sua gestão de risco e favorece o caixa do Estado.”
A exigência de avalista para a garantia da operação de crédito quando se trata do único imóvel do produtor rural. Pode ser um grande empecilho?
“O que a gente quer com o crédito hoje, é o mínimo de intermediário possível. É ligar o mais diretamente possível o credor, o investidor e o produtor rural e simplificar ao máximo a operação, então sim, é um empecilho.
E eu insisto: se a gente tem um mercado de seguro rural desenvolvido e bem planejado, o que vai segurar o crédito é a apólice que o produtor adquirir e, então, o credor estará satisfeito com essa garantia.
Essa necessidade de avalista e/ou outro tipo de garantia vai diminuir bastante e isso vai valorizar o crédito rural.”
Tem alguma expectativa sua com relação a essa questão do seguro rural e da evolução desse tema?
“Eu acredito que em algum momento o Estado vai entender a importância do seguro rural.
Então, eu acho que, após as conversas que estão prestes a existir, a serem deflagradas no governo, eu vejo com muito otimismo a solução definitiva na questão orçamentária do seguro rural.”