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Fluxo cambial apresenta déficit na primeira semana de março

Fluxo cambial

O mês de março começou com um fluxo cambial negativo de US$514 milhões, contrariando a tendência positiva de 2024. Os últimos meses, assim como o ano anterior, foram marcados por superávits do fluxo cambial, puxados principalmente pela balança comercial. 

A balança financeira, por outro lado, vem apresentando uma tendência de déficits, movimento que se repetiu na última semana, em virtude do ambiente internacional de altas taxas de juros. A expectativa de médio prazo, sobretudo a partir do segundo semestre, é de reversão parcial da tendência de saída de capitais pelo canal financeiro e do restabelecimento dos saldo positivos das transações comerciais, comum no Brasil nos últimos anos.

Acompanhe a análise a seguir.

Overview do fluxo cambial

Os dados mais recentes do Banco Central do Brasil mostram que o fluxo de câmbio contratado ficou negativo em US$963 milhões na semana do dia 26 de fevereiro e 1º de março. O saldo negativo, influenciado principalmente pelos números do mercado financeiro, foi menor que no período anterior, cujo saldo havia sido negativo em cerca de US$3,1 bilhões.

Considerando apenas o primeiro dia útil de março, os números do fluxo cambial foram consequências de um déficit comercial de US$168 milhões, somado ao saldo negativo de US$346 milhões da balança financeira. Apesar deste resultado, contudo, o acumulado de 2024 até o momento apresenta um superávit do fluxo cambial de US$2,57 bilhões, o qual é advindo principalmente dos superávits comerciais.

Os primeiros meses deste ano apontam para uma continuidade das tendências observadas ao longo de 2023, que registrou um superávit de US$11,5 bilhões no fluxo cambial, puxado principalmente pelos resultados recordes da balança comercial.

Fluxo cambial

Desafios decorrentes do fluxo cambial

Os resultados positivos alcançados no último ano, bem como os registrados nos primeiros meses de 2024, foram impulsionados principalmente pelo sucesso notável do setor agropecuário no mercado internacional, que atingiu um superávit comercial sem precedentes. 

Contudo, o panorama da conta financeira em 2023 revelou um déficit de US$37,6 bilhões, uma queda de 51,8% em relação ao observado em 2022. Esse declínio está associado, em parte, ao aumento das taxas de juros nos Estados Unidos e nos países europeus, condição que tem atraído parte do capital internacional para os títulos de renda fixa negociados nos países desenvolvidos.

Tal tendência tem se mostrado como uma das principais barreiras para o movimento de valorização do real, uma vez que os saldos da balança comercial, assim como as reformas macroeconômicas realizadas nos últimos anos, sugerem um quadro mais favorável para a divisa brasileira.

Ao mesmo tempo, os contínuos déficits do fluxo para atividades financeiras também se revelam como um dos fatores que dificultam a aceleração do ciclo de cortes da Selic, impedindo um crescimento mais acentuado da economia brasileira, em especial os setores altamente dependentes de crédito, como a indústria, o setor bancário e real estate.

Perspectivas para os próximos meses

Apesar dos desafios impostos pelas adversidades climáticas, que resultaram em uma redução da produção agrícola, espera-se que as exportações brasileiras sofram um leve recuo, mantendo, contudo, um saldo comercial positivo elevado para 2024, com expectativas apontando para o segundo maior superávit da história. 

Fluxo cambial

Adicionalmente, os indicativos mais recentes provenientes da economia da China apontam para uma desaceleração menos intensa do que o mercado esperava no começo do ano, prevendo-se uma melhoria nas atividades econômicas nos próximos meses. Isso deverá impulsionar as importações chinesas, beneficiando assim o setor externo do Brasil.

Contudo, é provável que a redução dos investimentos estrangeiros persista, influenciada pelo cenário de elevadas taxas de juros internacionais, que se espera que permaneça pelo menos até o fim do primeiro semestre do ano corrente, dada a situação atual dos indicadores de emprego e inflação nos Estados Unidos.

Atualmente, os mercados projetam que a Selic deve encerrar o ano no patamar de 9,00%, mesmo diante das políticas monetárias restritivas do Federal Reserve. A partir do segundo semestre, com uma provável queda dos juros americanos, o fluxo para atividades financeiras deve adotar um padrão mais favorável.

Nesse contexto, mudanças nos rumos do fluxo cambial, caso sejam intensas o suficiente, podem se revelar como um importante fator para o Bacen, uma vez que facilitaria as reduções nas taxas de juros, assim como permitiria um maior espaço para o movimento de apreciação do real.

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