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Written by 11:40 Agronegócio, Gestão

ESG & Novos Desafios das Empresas

“Em pouco tempo, a sustentabilidade deixará de ser um diferencial estratégico para se tornar obrigatória no mundo dos negócios”.

“Em pouco tempo, a sustentabilidade deixará de ser um diferencial estratégico para se tornar obrigatória no mundo dos negócios”. Lembro-me, como se fosse hoje, a primeira vez que li essa frase na publicação de uma revista especializada: a matéria analisava os rumos do planeta e da economia para a década. Eram meados de 2011 quando aquele texto me chamou a atenção e, desde então, passei a olhar com mais carinho para o tema, enfrentando, inclusive, as minhas próprias convicções, raízes mais técnicas, repletas de números e metas corporativas baseadas em resultados. E posso dizer: fiquei surpreso ao ver como o mundo dos negócios teria que mudar rapidamente, e mudou.

Cresci no agronegócio e no mercado financeiro, vendo e aprendendo que, nos negócios, o resultado era o que mais importava. Uma empresa media a sua eficiência e a de seus profissionais baseada simplesmente no “número final” ou na “última linha”, como ainda gostam de chamar alguns executivos. Mas, ao observar os rumos da sociedade e do mercado, passei a perceber que outros aspectos também deveriam começar a ser levados em consideração se o próprio resultado quisesse aparecer: inclusão, respeito pelas pessoas, equidade de gênero, trabalhos sociais, discriminação, respeito pelo meio ambiente, ética, compliance, fair play financeiro, lucro consciente, valores… As palavras começaram a ganhar peso frente aos números ao longo dos últimos dez anos e eu pude perceber que, embora a última década tenha potencializado esse processo, ele teve início muito antes.

Diferente do que muitos podem pensar, o que estamos falando nada tem a ver com abraçar árvores e fazer doações para entidades. Não se trata de ser “bonzinho”, mas de conseguir operar em um mundo em que as pessoas estão no comando e decidem se o seu negócio deve sobreviver ou não, simplesmente através do poder de compra que elas possuem. Elas descobriram essa autoridade. Se você respeita e valoriza o que elas valorizam, será respeitado e o seu produto consumido. Se não, a chance de fechar as portas será grande. E assim, as pessoas têm mudado o mundo dos negócios. Simples, mas complexo.

É com base nesse pensamento que surge, então, a ESG, sigla em inglês para descrever a preocupação das organizações com o meio ambiente, o social e a governança. Em resumo, essa é a nova voz dentro das empresas para dizer que os negócios precisam estar, sobretudo, conectados ao mundo real, não apenas ao financeiro. Ou seja, não basta apenas ter lucro, é preciso gerar valor para todos: comunidade, meio ambiente e acionistas, gerando entre os stakeholders equilíbrio e sustentabilidade.

Hoje, 53% das pessoas já confessam deixar de comprar quando sabem que uma empresa não respeita as pessoas ou o meio ambiente, e 71 % delas dizem estar dispostas a pagar mais caro por produtos que sejam ambientalmente corretos, segundo dados do Ibope (2016). Elas não aceitam empreendimentos que contaminem os rios, pois se tratam dos mesmos mananciais que lhes geram água para beber; ou aqueles que poluam o ar que elas respiram; muito menos aqueles que usam de trabalho escravo para construírem riqueza. A consciência é de que, mesmo que ganhem empregos, gastarão esse dinheiro com saúde e, mais do que isso, deixarão de ter disponível um recurso natural que é para todos.

E o consumo e produção de alimentos também têm sido alterados por conta dessa maior consciência e exigência por parte da população, o que revela desafios, mas também muitas oportunidades, além de necessidades de adaptação. Atualmente, o Brasil possui 32% de seu território destinado ao agronegócio, o que já gera questionamentos por parte de camadas da sociedade. Por outro lado, há também a crescente demanda por mais alimentos em todo o mundo, principalmente aqueles advindos de processos mais sustentáveis e saudáveis. Nesse sentido, a tecnologia e a inovação serão cada vez mais importantes e aliadas do produtor rural, que deverá buscar formas de produzir mais, em menos tempo e em áreas menores, utilizando técnicas que agridam e consumam menos recursos naturais, além de mais saudáveis. Tudo isso com um detalhe: comunicando e deixando claro para o consumir a maneira sustentável que trabalham, afinal, como já vimos, é o que buscam, mesmo que precisem pagar mais caro por isso.

O novo cenário traz impactos para os negócios como um todo. A Universidade de Harvard, nos EUA, fez um estudo profundo entre os anos de 1990 e 2010, comparando as empresas que possuem políticas ESG com as que não têm. O resultado foi impactante: as 90 empresas de alta sustentabilidade apresentaram melhores taxas de retorno, em 18 anos. Nesse período, o patrimônio aumentou 33 vezes; o de uma empresa de baixa sustentabilidade, 26 vezes. O retorno de uma empresa de alta sustentabilidade em 2010 foi de sete vezes o valor investido em 1992; o de uma empresa de baixa sustentabilidade foi de 3,5 vezes.

Analisando a evolução do valor das empresas ano a ano, também foi possível verificar que, mesmo em momentos de queda nas Bolsas de Valores, a desvalorização das empresas de alta sustentabilidade foi significativamente menor do que a das empresas de baixa sustentabilidade. E quando falamos em sustentabilidade, é importante reforçar: isso envolve pessoas, o meio ambiente e o lucro consciente.

No último ano, segundo estudo da KPMG, as empresas que possuíam práticas positivas de ESG sofreram menos com a crise do coronavírus. São companhias que perceberam uma equação simples: sem meio ambiente não há economia, sem pessoas, não há consumo e muito menos empresas.
O que se pede, então, é que as riquezas sejam geradas, sim, mas não a qualquer custo. Que se tenha lucro, mas que o rio continue limpo, o ar disponível, as pessoas saudáveis (e bem remuneradas), e que a ética permeie os empreendimentos mesmo que isso traga uma margem menor de ganho, afinal, o lucro exacerbado significa, quase sempre, o prejuízo de alguém. Algo muito importante a destacarmos é: há mercado para isso.

As pessoas querem pagar mais para consumir de forma consciente, elas estão dispostas a apostar nas marcas que se comprometem a fazer do mundo um lugar melhor para se viver. Mais uma vez, não se trata de ser “bonzinho”, mas sim de atender a uma demanda de negócio gerada pela sociedade.

Para reforçar a prática e dar um sinal claro à sociedade e aos investidores, muitas organizações têm agido para reforçar o conceito. Algo que já tem acontecido e que deve imperar para os próximos anos, por exemplo, é a lista de empresas que atrelam a remuneração de seus executivos a metas ESG. Também devem aumentar os Comitês e Relatórios de Sustentabilidade, além de fundos de investimentos com esse foco e uma alta demanda da sociedade por respostas e informações das próprias organizações sobre o que elas têm feito para que os negócios sejam mais sustentáveis. Quem souber aproveitar e utilizar essas informações, terá sucesso, quem negar a realidade, talvez não esteja aqui para contar a própria história quando tudo o que é previsto para os próximos 30 anos se cumprir.

Seu negócio terá valor em 2050?

Neto Perez
Executivo Administrativo Financeiro

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