Produção industrial brasileira enfrentou um ano desafiador, mas gerou perspectivas positivas para 2024
A produção industrial brasileira enfrentou um ano desafiador. O fechamento de 2023 trouxe uma variação da produção da indústria geral quase nula.
Esse desempenho reflete desafios do ambiente econômico externo, mas também do ambiente econômico doméstico, que envolve:
- a variação da Selic,
- a dificuldade de se conseguir crédito,
- o aumento no endividamento das famílias,
- e o câmbio.
Neste texto, trazemos uma breve análise sobre o desempenho da indústria em 2023 e as perspectivas para 2024. Confira!
Como foi o comportamento da produção industrial brasileira em 2023?
A produção industrial brasileira permaneceu estável em 2023. O ano foi marcado pela queda na confiança dos empresários e queda na demanda de muitos consumidores.
Tal movimento foi influenciado especialmente pelos juros mais altos praticados no país em resposta à inflação que foi deixada pelo período da pandemia de Covid-19.
O último dado divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referente ao mês de outubro, registrou uma variação de 0,1% frente ao mês anterior, na série com ajuste sazonal.
Olhando por outra perspectiva apresentada pelo IBGE, na comparação com outubro de 2022 houve crescimento de 1,2% da produção industrial nacional. Os índices acumulados entre janeiro e outubro de 2023 e também o acumulado dos últimos 12 meses apresentaram variação nula.
Quais foram as razões que levaram a esse cenário?
O desempenho da indústria nacional até outubro de 2023 deixou o resultado do setor 1,6% abaixo do que foi registrado em fevereiro de 2020, que é o marco pré-pandemia (as quarentenas começaram em março de 2020). Vale destacar também que a indústria está 18,1% abaixo do resultado registrado em maio de 2011, ponto mais alto da série histórica.
Dentre os principais motivos para o desempenho da indústria estão o custo de crédito elevado, devido à taxa Selic mais alta do que em outros momentos. Esse movimento desacelerou as concessões de crédito para pessoas e empresas e, com isso, investimentos e contratações foram diretamente afetadas.
Os juros mais altos também tiveram reflexo na inadimplência e no endividamento das famílias e das empresas, o que impactou negativamente a indústria de modo geral. Adicionalmente, podemos apontar o movimento de valorização do real ao longo do ano.
A valorização da moeda brasileira avançou 7,5% em relação ao dólar. Na teoria, isso deveria impulsionar as importações. No entanto, a indústria apresentou dificuldades na importação de bens de capital e intermediários, que se reduziram na comparação com 2022.
Aprofundando os dados da produção industrial brasileira
Os dados da produção industrial brasileira são agrupados de duas formas: por categorias econômicas e por atividades industriais. Quando olhamos por categorias econômicas, há quatro categorias chave, que tiveram a seguinte variação:
Categorias Econômicas | Out/23 vs Set/23 (%) | Out/23 vs Out/22 (%) | Acumulado Janeiro-Outubro (%) | Acumulado nos últimos 12 Meses (%) |
Bens de Capital | -1,1 | -10,3 | -10,3 | -9,0 |
Bens Intermediários | 0,9 | 1,3 | -0,1 | 0,0 |
Bens de Consumo Duráveis | -2,4 | -3,2 | 2,5 | 2,3 |
Bens de Consumo Semiduráveis e não Duráveis | -0,3 | 4,0 | 2,0 | 1,8 |
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Note que o setor de bens de capital, onde se encontram as indústrias de base, foi o que mais sofreu em 2023. Boa parte desse comportamento pode ser explicado justamente em função do comportamento dos demais setores:
- a categoria de bens intermediários ficou praticamente estável. Portanto, podemos notar que não houve espaço para demanda de bens de capital;
- a categoria de bens de consumo duráveis, que contempla os segmentos de produtos com maior durabilidade como carros, motos, eletrodomésticos e eletroeletrônicos, registrou um desempenho melhor quando comparado aos demais segmentos. No entanto, chegamos ao final do ano com dados negativos. Essa volatilidade nos permite observar que não houve base para elevar a demanda de bens de capital;
- somente a categoria de bens de consumo semiduráveis e não-duráveis, como alimentos e bebidas, teve um bom desempenho – e são justamente setores cuja demanda por bens de capital é menor.
O que podemos esperar para 2024?
Com base em todos esses dados, podemos notar que há espaço para crescimento do setor. O ano de 2023 foi repleto de mudanças, como o início da trajetória de queda da Selic e a valorização da moeda brasileira. Essas mudanças podem impulsionar o ambiente econômico em 2024.
É importante destacar que, com a melhora do ambiente doméstico, há espaço para o fortalecimento do desempenho da indústria geral e, consequentemente, da indústria de base. O ambiente externo ainda é difícil de se traduzir. Os dados de outros países como EUA, China e países da zona do euro apontam para maiores desafios.
A indústria brasileira de base é uma grande exportadora, especialmente para a China. Dessa forma, esse ponto deve permanecer como uma incógnita. No entanto, a melhora do ambiente doméstico deve servir de contrapeso para o segmento.